40 – Mulher: Saco de Pancadas (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

Um homem atira na mulher grávida, outro atropela e arrasta uma mulher até ela ter as pernas amputadas, um terceiro dá mais de sessenta socos na namorada, um quarto segue, estupra e mata uma passante, e por aí vai. São muitos casos. Todos no mesmo país, no espaço de poucos dias.

O que têm em comum o homem que grita, o homem que xinga, o homem que bate, o homem que mata uma mulher? São agressões de níveis e intensidades diferentes, mas elas vêm todas do mesmo lugar. O homem que agride é aquele que não somente acha “normal”o seu descontrole como também acredita que não sofrerá consequências por seus atos, que escolhe ignorar o mal que causa a cada grito, a cada xingamento, a cada soco. Daí para a tragédia é só um passo. No Brasil, 21 milhões de mulheres relatam já ter sofrido agressão psicológica, física, sexual, e em mais de 70% dos casos crianças testemunharam a violência. Por dia, 13 mulheres perdem a sua vida. Isso não aflige apenas as mulheres agredidas e os homens agressores. Aflige todos os homens e todas as mulheres. Afinal, numa sociedade em que há muito sofrimento, todos sofrem os efeitos disso.

Por acaso ou não, 22 milhões de pessoas consomem pornografia no Brasil. Um estudo da universidade de Potsdam, na Alemanha, investigou a relação entre o uso de pornografia e a agressão sexual, sendo que, segundo o mesmo, “estudantes que reportaram anonimamente ser perpetradores de agressão sexual afirmaram ser consumidores de pornografia violenta. Os resultados do estudo demonstram que há uma estreita relação entre consumo de pornografia e a perpetração de agressão sexual. Em 304 cenas de vídeos pornográficos mais populares, 88% das cenas apresentavam agressão física e 49% agressão verbal. O estudo aponta para a pornografia como importante agente de informação e valores entre jovens com forte impacto no comportamento.”

E não temos apenas a pornografia como conteúdo altamente violento disponível a todos os jovens na Internet. Temos videogames, filmes e shorts, todo tipo de material para aqueles que sentem que, de alguma forma, precisam “desafogar” a ansiedade e agressividade, não somente as próprias tendências e padrões de comportamento abusivo, como também aqueles provocados por um mundo hostil. Certamente, a proibição e a censura não são a solução, mas quais alternativas estamos oferecendo? Tampouco é por acaso que há uma epidemia de doenças mentais, sendo que também nesse quesito as mulheres são a grande maioria afligida e as razões para isso não são poucas. As mulheres são mais agredidas, ganham menos, têm sobrecarga de trabalho, apresentam um maior índice de desemprego e trabalho não remunerado.

Não há mais como negar. O machismo estrutural é uma das causas mais graves de grande parte das aflições modernas. Não há sociedade que possa prosperar assim. Nós, mulheres, representamos mais da metade da população brasileira. Viver com medo, para nós, é normal.

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