51 –  Feliz Ano Eternamente Novo (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

Sabe aquele sonho em que você corre, corre e não sai do lugar? De repente, vem a vontade louca de gritar, mas o grito não sai. Você grita por dentro, grita desesperadamente, mas está sem voz, só consegue se escutar. Depois de um tempo que parece longo demais, você acorda gemendo e não tem certeza se aquela sensação foi um sonho ou se, na verdade, essa é a sua vida. De manhã, você finge que não aconteceu, mas o pesadelo acompanha seus dias e assombra suas noites. Para muita gente, essa é a realidade, e não só para aqueles que estão mal. É assim também para muitos outros, que todos os dias se levantam e funcionam, sorriem e falam normalmente, mas por dentro, até mesmo sem saber, estão doendo e gritando. 

Para eles, para nós, hoje eu me sento e escrevo. Meu irmão, minha irmã, não se iluda. Não há solução imediata para a dor que você está sentindo, não tem um botão para clicar e deletar a angústia. A gente recorre a remédios, à religião, aos vícios, às distrações, mas é como correr em círculos para sempre voltar ao mesmo lugar e se deparar com monstros que muitas vezes se alimentam e crescem graças ao nosso medo. Pensar nisso não é agradável, não é um vídeo fofinho que dá para compartilhar, não é algo de que podemos nos orgulhar, pelo contrário, geralmente a gente se envergonha, esconde nossas tristezas, se culpa por não conseguir fazer parte da alegria generalizada, do grande parque de diversões que é a vida das pessoas que acompanhamos na Internet. 

O que fazer? Por onde recomeçar? Como partir do zero quando já tentamos e falhamos tantas vezes? Queremos respostas prontas, mas o que já está pronto não é resposta. Responder é um processo de descoberta da pergunta. Por mais que as palavras que usamos para descrever nossas aflições e dúvidas pareçam ser as mesmas usadas por todos que nos antecederam, nada nunca é igual. Não nos restam muitas escolhas senão levantar e sair da caverna, sentar lá fora, além do conhecido, e olhar para o céu estrelado como se fôssemos as primeiras pessoas. Sim, o universo é assustador, mas nele cabem todas as histórias, todos os deuses que inventamos, toda a trajetória da humanidade. 

Começar de novo não é uma forma de negar o que passou. É como nos tornamos verdadeiramente humanos, vivendo um dia, um mês, um ano de cada vez, passo novo a novo passo, sempre à beira do abismo, sempre envoltos de mistério. 

Feliz Ano Novo.