
Aqui estão eles, de novo, com seus tanques e bombas, aviões e ameaças. Gastam e ganham bilhões com suas arminhas e guerrinhas, escalam conflitos cada vez mais, semeadores de ódio e criadores do caos, enquanto o mundo teme, sofre, adoece e definha por ignorância.
Aqui estamos nós, de novo, em meio ao colapso, ameaçados de extinção, olhando para nossos filhos e netos, sem saber o que dizer, sem entender o que sentir, como prometer vida diante da morte generalizada, cheios de medos e angústias, sem saídas nem soluções, sem perspectivas nem futuro.
Não há para onde fugir, nem como negar, o mundo que ajudamos a construir está prestes a desabar. A fundação está rachada, os valores, pulverizados. Estava e está tudo errado, será que já esteve certo, que o que pensamos ser correto não era apenas uma forma de camuflar nossa incapacidade de alcançar uma verdadeira humanidade?
Talvez viver seja isso, um ciclo eterno, um palco do ser e desaparecer, onde tudo é para ser sentido sem nunca fazer sentido. Cavalgar a miragem até que o sonhador seja o sonho da realidade. Aceitar a dissolução como o silêncio entre notas de música, ou como a música do silêncio.
Ainda assim, por isso mesmo, não deixar de lutar, pelo ouro da paz revolucionária, pelo tesouro do amor incendiário, aquele que não tem nome, nacionalidade nem religião. Vestir as asas de fogo e verter a cachoeira da vida. Respirar como quem se inspira. Abraçar a existência todos os dias, pela primeira e última vez.
A iminência externa é, também, interna, o momento mais obscuro antes da consciência. Reconhecendo o que não fomos, percebemos o que somos. O inferno que nos queima é o mesmo que nos força a renascer. Ainda que digam o contrário, os infelizes, causadores do calvário, desponta o poder, que é nosso, o direito inalienável de florescer.