2 – A Verdade do Coração (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

Esses dias estava conversando com amigos sobre o caminho espiritual. Falávamos de nossas dificuldades e descobertas. Uma amiga muito querida me perguntou quais eram as quatro nobres verdades budistas. De repente, me deu um branco. Após estudar o budismo tibetano por 20 anos, eu não conseguia responder àquela pergunta tão simples. Expliquei de forma simplificada e resumida como eu as vivo, mas fiquei sinceramente intrigada com meu esquecimento. Por que eu não me lembrava de algo que venho estudando e praticando há vinte anos? O primeiro pensamento que me veio é que espiritualidade é, ao mesmo tempo, um tema profundamente simples e extremamente complexo. Podemos enumerar verdades sem entender absolutamente do que tratam. Podemos até entender certas verdades na teoria, mas não saber como vivê-las na prática. Transmitir verdades pessoais é uma grande responsabilidade. Portanto, há várias respostas possíveis para minha falta de memória.

A primeira resposta óbvia é a idade e a minha forma peculiar de memorizar, sempre muito limitada e seletiva. Não costumo reter nomes, datas, fatos ou conhecimentos, muito menos agora que eles estão nas pontas dos dedos e podem ser acessados em todos os momentos e lugares em nosso computador manual. Por outro lado, consigo me comunicar bem em seis idiomas e realizar muitas tarefas para as quais a memória é indispensável. Contudo, reter dados requer um esforço, pois em meu trabalho e no cotidiano, lido com inúmeras informações o dia todo. Além disso, sempre prezei uma abordagem instintiva em meu caminho espiritual e artístico. Ainda que leia muito e tenha feito incontáveis traduções sobre o assunto, gosto de manter minha forma de me comunicar e viver a mais elementar possível. Às vezes, simplesmente me esqueço de que também estou aqui para compartilhar conhecimentos que, consciente ou inconscientemente, regem o meu caminhar.

Por isso, aqui vão as quatro nobres verdades budistas, para quem não as conhece. São elas: a nobre verdade do sofrimento, da origem do sofrimento, do cessar do sofrimento e do caminho que leva à cessação do sofrimento. Explicando com as minhas palavras e como eu as entendo: todos sofrem. O que nos faz sofrer tem a ver com o apego e a identificação com comportamentos e posturas que levam ao sofrimento. É possível se libertar do sofrimento conhecendo e se libertando das causas dele. Para conseguirmos essa façanha, descobrimos e trilhamos à nossa maneira o caminho que outros abriram e trilharam antes de nós. Para mim, viver é uma peregrinação, uma viagem que passa por montanhas e vales, planícies e planaltos, dias de sol e de chuva, em que cada passo conta e é importante ao mesmo tempo que mantemos em mente o nosso propósito maior. Nossa forma de caminhar reflete quem queremos ser.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.