Com Todos os Sentidos

Hoje aceito que viver é caminhar, um passo depois do outro. Não foi sempre assim, às vezes eu entendia, noutras eu me rebelava. E não adianta, a não ser pela rebeldia de não aceitar menos do que a totalidade. Só que a conquista não está nos grandes feitos, mas no espaço rarefeito dos momentos que nos levam adiante e que, contemplados, são imensos. As belezas comuns têm o poder de sustentar, atravessam as dores do cotidiano, nos ensinam a sentir, a despertar da apatia e existir. Com todos os sentidos, entender. Estamos vivos. Não dá para escapar nem para evitar, sair pela tangente, fingir que não há o obstáculo inevitável e inerente, porque dele também somos tecidos e nele desabrochamos no desconhecido. Nas teias delicadas do infinito, como a água que perpassa o instante e as estrelas que nos escrevem, não há nada que não seja incomensurável. Cada minuto é a pequena morte que carrega em si a semente do mistério insondável, perceptível apenas para quem não tem medo de sentir. A gentileza brota da dança consciente do sonhar, em cada ato, da delicadeza do tato à grandeza que inspira ao respirar, e é ela a marca que fica na estrada que acabamos de trilhar.

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