
Acho que a vida virou uma quarta-feira. Quando vejo, já estou novamente diante da tela em branco e me espanto. Gente, já passou uma semana! Será que todo mundo também se surpreende assim com a passagem do tempo? E por que é tão surpreendente? Será que não sentimos o tempo? Bem, sim, claro que o sentimos, especialmente quando vemos o filho crescendo tanto que não tem mais como fingir que ele é um bebezinho e, mesmo se quiséssemos continuar acreditando nisso, ele já não aceita e reclama, ou então quando começamos a envelhecer. Ontem mesmo, conversando com um amigo de décadas, comentamos que é realmente curioso como muitas vezes nos esquecemos do corpo. É como se, por dentro, tudo ainda fosse como era antes, mas aí temos que levantar e funcionar e os membros rangem e reclamam, como uma máquina que já não funciona tão bem.
Ou será que a vida virou uma quarta-feira porque é o momento onde me encontro comigo mesma diante da tela, mesmo que seja para escrever uma besteira qualquer, como quando a gente tem um namorado virtual e marca um dia e uma hora para se encontrar? Muitas vezes, a gente nem mesmo sabe o que falar, mas não tem coragem de desmarcar o encontro, afinal, mesmo que seja terrível, ainda assim é a melhor coisa que vai nos acontecer na semana. Aí a gente enrola, diz qualquer coisa para preencher o espaço, finge que se interessa pelas respostas às nossas perguntas sem sentido, e ficamos ali, sem ir embora nem mencionar o que realmente interessa, os passos radicais que seriam necessários para tornar a vida, o namoro, o dia a dia mais significativos, pois ninguém quer realmente mudar até a hora em que a mudança é completamente inevitável. Ainda assim, no silêncio entre as linhas, na presença despretensiosa, o namoro continua.
Essa quarta-feira é, também, véspera do Dia dos Namorados, o que não quer dizer absolutamente nada, mas isso tampouco é verdade, pois dentro de cada um ainda há uma menina ou um menino que já se apaixonou e achou que aquela paixão era a coisa mais importante do mundo. E a verdade é que, antes tarde do que nunca, o que vale é entender e confessar que não importa a idade, não importam as escolhas que fizemos ao longo do caminho e onde estamos agora, o que a gente precisa mesmo, de novo e de novo, é se apaixonar, acima de tudo pela vida em branco que nos espera nesse exato momento. É possível reescrever a maneira como compreendemos e vivenciamos o instante, com a calma e alegria de quem está vivo e não sabe nem nunca saberá coisa alguma, mas tem curiosidade o suficiente para dar nem que seja mais um passo no escuro, ou quiçá para derrubar impérios, lutar contra fascistas, plantar milhões de árvores, escrever não sei quantos livros e namorar, com paixão renovada, o desconhecido no espelho que nos escreve agora.