21 – Melhores Amigas (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

21 – Melhores Amigas (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

A primeira vez que nos vimos, eu estava numa caixa com meus irmãozinhos. Você chegou com seus cabelos indomáveis e um grande sorriso, se debruçou sobre meu mundo com um olhar curioso, afagou minha cabeça. Meu coraçãozinho começou a bater mais forte, era uma imensa alegria se espalhando por todo o meu corpo, uma vontade louca de pular e latir, mas eu fiquei bem quietinha, com medo de você me achar mal-comportada. Eu era pequenina e já sabia de tudo que importava, que a gente se conhecia sem nunca ter se visto e que eu seria sua amiga para todo sempre. 

Não deu outra, no mesmo dia me levaram para a sua casa. Fiquei feliz porque você tinha um grande quintal, cheio de amiguinhos, cachorros, gatinhos, jabutis, e eu fui logo fazendo amizade, porque eu sou assim. Gosto de quase todo mundo. No início ainda ficava na minha, afinal, não queria que você pensasse que sou abusada. A verdade é que, entre nós, foi amor à primeira vista, não desejava nunca estar em nenhum lugar em que você não estivesse. A cada vez que você saía, esperava impacientemente o seu retorno e, quando você estava em casa, eu acompanhava cada um de seus passos. E é assim até hoje porque é como tem que ser. Como eu havia previsto, somos grandes amigas e o melhor lugar do mundo é pertinho de você, de preferência deitada nos seus pés. 

Com o tempo, fui crescendo e ficando cada vez mais à vontade, entendi que nossa casa é meio bagunçada e eu tenho que ajudar a organizar as coisas. Como você, faço o possível para tomar conta de todo mundo, mas realmente não é fácil. Por isso, passei a latir um pouco mais. Afinal, tenho que informar quando é hora de comer, avisar geral quando você está voltando para casa, que é sempre um dos momentos mais importantes do dia, como também quando você acorda, porque é como se estivesse voltando de uma longa viagem. Ficamos todos em polvorosa e eu não me contenho, começo a latir adoidado, rolo na areia, pulo em espirais, numa adoração esfomeada.

Acho que é por toda essa agitação que vocês fecham a porta da casa, querem seu espaço, parece que as relações humanas primam por respeitar a individualidade de quem se relaciona. Sinceramente, não entendo muito bem, o que eu gosto mesmo é de grude, ainda mais porque os gatos entram pelas janelas e se esgueiram pelos cantos, os danados, desfrutam se sua presença quando eu só a pressinto. Por mim, ficávamos coladinhas o tempo todo, mas tudo bem. Fico aqui fora à espera, escutando todos os ruídos, vigiando todos os movimentos, antecipando dolorosa e saborosamente o momento do reencontro. Então, assim que você reaparece, tudo é festa, tudo faz sentido novamente. 

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