3 – O Chamado do Dia (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)
O dia amanhece fechadinho, uma caixa embrulhada embaixo da árvore de Natal. Não se pode abrir ainda, mas há nele uma promessa oculta. A sensação de que algo está reservado para nós.
Esperança transcende e criança se alegra, sem muito pensar. A antecipação tem sua beleza.
No verão, chuva é sinfonia da natureza em êxtase, tudo é regado, tudo bebe das nuvens, e a água cai como trilha sonora de um mistério profundo. Quem consegue parar, percebe.
Há um convite em cada gota, uma sucessão espantosa de agoras que se abrem em euforia. E são tantas que vacilamos. A indiferença parece ser muito mais fácil. A tristeza incide. Como seria possível mergulhar?
É o grande enigma dos dias que começam e acabam infinitamente.
De repente, a exaustão grita. Chega de superfície, da falta de gravidade, da sensação de estar de cabeça para baixo, do céu que ameaça, da vertigem constante do desamparo!
Ao longe, a música e o encanto são voláteis, como tudo que vale a pena. Impossível de segurar. Já não sabemos não nos preocupar diante da miséria que tecemos, com cada gesto e cada passo, da iminência do desastre.
Ainda assim, por isso mesmo, o novo dia canta num incessante transbordamento de si mesmo. O amor chama, intangível e incansável, nas entrelinhas do abismo.