Meu filho, de oito anos, se apaixonou pela primeira vez, por uma menina com o dobro de sua idade. Disse, literalmente, que está com uma “paixonite”, um “crush”, palavras que deve ter ouvido nos filminhos ou desenhos. De repente, só fala dela, quer ir visitá-la todos os dias, de preferência duas vezes. Ainda bem que ela está hospedada aqui pertinho. Pediu o telefone dela e manda lindas mensagens cheias de corações e emoticons com o meu celular. Expliquei que incomoda ficar ligando, mas mandar mensagens amorosas pode.
E agora? O que fazer com tanto amor, repentino, que não cabe no peito? É um tal de andar para cá e para lá falando o nome dela, suspirando que ela é tão, mas tão fofinha. Logo, ele teve uma ideia, entendeu o que tinha que fazer, graças ao exemplo do que viu e ouviu em casa.
_Mamãe, posso comprar um chocolate para ela?
_Para comprar um chocolate tem que ter dinheiro, meu filho.
_Você pode me dar dinheiro?
_Não, para dar um presente de amor você vai ter que trabalhar.
_Mas eu sou criança, como eu faço?
_Você gosta de desenhar. Por que não tenta vender seus desenhos, como o papai?
_Boa ideia, mamãe!
Saiu rapidinho e foi oferecer os desenhos já prontos para amigos da família que estão hospedados em casa. Negociou com eles, pediu quinze por cada um e aceitou dez, mas disse que precisavam pagar logo, porque tinha urgência. Voltou eufórico:
_Olha, mãe, consegui ganhar meu primeiro dinheiro!
_Muito bem, filho!
_Vou levar um chocolate, um desenho e um buquê de flores para ela. O que você acha?
_Acho perfeito!
Ele escolheu as flores do jardim, pediu ajuda para juntá-las em um buquê, do jeito que ele queria. Pela primeira vez, foi sozinho à conveniência e comprou um chocolate. Calculou quanto tinha que receber de troco. Mais tarde, deu parte do que sobrou para um pedinte na rua, afinal, ele estava com fome, e para um vendedor de picolés, que não tinha conseguido vender muito devido à chuva, mas não comprou nada dele porque só tem permissão de comer açúcar no fim de semana. Desenhou um alienígena bem bacana e um disco voador colorido e escreveu uma dedicatória cheia de coraçõezinhos.
_Podemos levar os presentes para ela agora? Você me ajuda?
_Bora! Vamos mandar uma mensagem para perguntar se podemos ir.
Ficou indo e voltando, perguntou várias vezes se ela tinha respondido, até finalmente receber a resposta que queria. Fomos caminhando tranquilamente com os presentes nas mãos.
_Mamãe, você acha que ela vai gostar?
_Como não? Claro que sim, são lindos! Mas sabe o que é mais legal em dar presentes para quem se ama?
_O que?
_A gente dá para ver o outro feliz, sem esperar nada em troco.
_Tomara que ela fique feliz!
_Com certeza, vai ficar.
A menina amou os presentes e todo mundo, inclusive a família dela, se animou, festejou e achou tudo muito lindo. Depois, voltamos para casa e ele passou o resto do dia super contente consigo mesmo. Tinha realizado novas conquistas e, além de tudo, feito alguém feliz. Sem perceber, acabou alegrando também várias outras pessoas com seu movimento.
Nada como o amor para nos ensinar a amar.
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