Aqui em Paris, como em todas as cidades, as ruas estão cheias de carros e pessoas que se movimentam para todos os lugares. Na França, há até mesmo placas de orientação de destino em que se pode ler uma mensagem muito misteriosa: “Outras Direções” ou “Todas as Direções”. É o único país em que vi algo assim e confesso que nunca, em nenhum cruzamento do mundo, fiquei tão feliz em ver placas de trânsito como fico aqui quando leio essas palavras tão poéticas reinando acima do caos diário de um mundo em transe. Li a história de um escritor que estava no carro com seu pai quando este, de repente, resolveu sair da rota conhecida e seguir a placa “Outras Direções”. Eles foram parar na Itália, em Roma. Que maravilha poder, por vezes, sair do caminho conhecido e simplesmente mergulhar no desconhecido, não é mesmo? Em um mundo em que a maioria tem um número de identidade, um endereço fixo, uma história de vida na ponta da língua, deixar todas essas certezas de lado pode ser uma bênção.
“Outras Direções” é o caminho a tomar quando nosso destino não está em nenhum dos lugares sugeridos nas placas, “Todas as Direções” é quando não sabemos aonde ir, mas sabemos que queremos ir. Simplesmente ir em frente, não para trás, nem para o lado, para o que já foi definido. Afinal, o que é ser alguém? É o que fazemos, o nosso trabalho, as escolhas que fizemos até aqui? Esse mapa de referências que criamos pode ser muito prático quando queremos nos mover e comunicar, mas, como várias outras ferramentas que inventamos, acabamos nos perdendo e sendo escravos do que definimos para nós mesmos. Com certeza, não é fácil nos livrarmos do peso da identidade ou, pior ainda, da falta dela. Tudo ao nosso redor, desde a publicidade até as redes sociais, ou simplesmente as conversas com quem quer que cruzemos na esquina, nos pede para nos enquadrarmos em uma ideia, entrarmos em uma caixa com uma etiqueta específica, como uma caixa de sapatos onde se pode ler o tipo e o tamanho do calçado. Somos isso e ponto final. Assim nasce a nossa eterna sociedade de castas, onde uma pequena elite tem acesso ao que há de melhor e o restante luta para se manter na superfície sem afundar. Acreditamos que somos o rótulo que nos forçaram a usar. Também aqui, no assim dito “primeiro mundo”, vê-se moradores de rua em várias esquinas. Ou seja, pessoas que não conseguem se encaixar no mapa coletivo.
Por isso, da próxima vez que estiver sucumbindo sob o peso esmagador daquilo que tem que ser e fazer ou do que você não foi ou não fez, talvez seja a hora de pensar e agir fora do que sabe e conhece. Se não houver outro caminho à vista, desenhe a sua própria placa, mergulhe na toca do coelho, deixe-se levar por seu sonho mais surreal, contemple a vastidão do céu e navegue para novas terras que só existem dentro de você e ninguém, nem mesmo você, descobriu ainda. Aposte na sua própria imensidão. Volte ao lugar da infância onde cada passo era uma descoberta. Retorne para o mundo sem palavras, nomes e etiquetas. Vá além do idioma que está sendo falado ao seu redor, explore o código universal por detrás de todos os códigos. Por alguns instantes, permita-se ir em “todas as direções” e, se possível, pratique essa forma de não ser alguém específico um pouquinho mais a cada dia. Quando não houver outra saída, seja maior. Entre na existência. Deixe-se surpreender. Acredite: a vida agradece.
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