Semana passada recebi o diagnóstico de pneumonia. A doença obriga a desacelerar, parar, escutar, refletir.
Sobre a vida, tecida com fios de tristeza e alegria. São tantos e tão entrelaçados que, vistos de fora, parecem ser uma coisa só. O que não deixam de ser, pois é simplesmente existência em constante nascer e morrer, todo momento trazendo consigo sua parcela de espanto, pelo desconhecido de cada dia, e luto, por tudo que já passou. Todos os pequenos prazeres têm o sofrimento de seu fim iminente como pano de fundo e a felicidade, se ela existe, só pode ser acessível para quem abraça o perecer de cada instante. Não obstante, queremos desesperadamente viver, desde a primeira até a última respiração. Lutamos, com todas as forças de nosso ser, com todas as funções de nossos órgãos, em um meticuloso e sincronizado trabalho em equipe, para seguir respirando.
Ás vezes dói mais, às vezes menos, mas há uma tendência da dor de ficar mais intensa com os anos que passam. Para muitos, o tempo é cumulativo, pesa nos ossos, esmaga os movimentos, com suas histórias que fazem rir e chorar, arrebenta as esperanças e os sonhos, arrebata os desavisados e todos os que não conquistaram a excelência em ser plenamente humanos. Ah, como não morrer dessa doença tão comovente que se chama humanidade? Como suportar o transbordamento de vida de cada momento? Às vezes a mente, outras vezes o corpo não aguenta e se esfacela em migalhas doloridas. O sábio talvez consiga rir de tudo isso e negociar com a dor. Os mais preparados, surfam as ondas, deslizam de skate na dureza dos dias, jogam capoeira com a dor, não sentem tanto e se levantam rapidamente a cada tombo. Outros, intimidados talvez pela grandiosidade, padecem a queda constante do paraíso sonhado.
A tristeza respira mal, ela tem o pulmão tomado pela viscosidade do mundo. Ela chora por reconhecer a si mesma como incontornável, sem resposta nem solução. É a tristeza dos pais que envelhecem, dos que não chegam a envelhecer, do filho que cresce, do outro que se vai antes disso, do amigo que morre, daquele que se mata, dos que sofrem, e sofrem de novo, das palavras não ditas, das tantas palavras mal ditas, do sonho que não foi, do que já acabou, do que estão fazendo com a natureza, do que não estão fazendo pela natureza. E assim por diante. É a terra que nos permite andar em cima dela, a mesma que nos engolirá. É o fogo que nos aquece e alimenta, o mesmo que destrói matas e possibilidades de sobrevivência. É o que é, que está e não pode ser ignorado, que grita sem precisar gritar. O que faz do caminho andado uma perpétua busca por redenção e cura. E do amor, Deus, matéria-prima do tempo, natureza suprema: pura arte de transformar e mudar, até mesmo a pior das tristezas.
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