Setembro foi um mês e tanto. Quando a gente viaja, as estações se confundem. Estou no hemisfério norte e trouxe um pouquinho da primavera baiana em meu corpo. Ao mesmo tempo, sinto o outono que chega devagarinho com suas mudanças bruscas de temperatura e ventinhos gelados que surgem de repente, nesses dias em que o sol ainda se põe tarde, por volta das nove horas da noite. De onde eu venho, o equinócio é a vida recomeçando a brotar e dançar. Aqui, a natureza começa a chamar para o recolhimento. Ainda assim, o sol tem brilhado quase diariamente, para minha alegria, como se a nova estação hesitasse em chegar só para me poupar, eu que não sou muito chegada ao frio. Infelizmente, deve ser a emergência climática que faz isso e não a boa vontade parisiense.
Em setembro, voltei para onde vivi muito tempo atrás, revi amigas que não via há anos, redescobri lugares e pessoas que me marcaram muito. De um lado, é como se o tempo não tivesse passado, a essência está ali, nós nos reconhecemos. Como num passe de mágica, tudo ressurge, os cheiros, as sensações e emoções. No entanto, tanta coisa aconteceu. Longos percursos, mortes e renascimentos. Nada é mais como foi. Quem fui, as escolhas que fiz, as alegrias e dores. Tudo passou, morreu, se transformou. Embora ainda esteja aqui, escrito nos gestos e traços. Converso com minhas amigas e nelas também, em seus semblantes e histórias, está toda a trajetória, as belezas e fúrias que viveram, os medos que padeceram, as catástrofes que sobreviveram e a coragem que tiveram que achar em si para ainda estar aqui.
O equinócio convida a olhar para esse espelho: o caminho que me trouxe até aqui, o que me tornei caminhando por ele, que tanto tem a dizer sobre a minha forma de caminhar. O diagnóstico de pneumonia, no início do mês, intensificou esse reencontro comigo. Foi um sinal. Um longo tratamento de três semanas termina hoje. Não tenho certeza de estar curada. Há um peso em meu peito que não quer partir. Preciso olhar para ele, mas é difícil parar, tão cheia que estou de primavera outonal. Tenho um menininho ao meu lado, meu filho, que precisa se exercitar constantemente. Ajudo meu marido a montar sua linda exposição de arte. E tem a cidade onde vivi um dos momentos mais intensos de minha vida como pano de fundo. Caminhamos por horas a fio, há tanto para contemplar. Ao mesmo tempo, algo está se despedindo. Sempre está. Não é por acaso estar onde estou. Nunca é. São as tais mudanças inevitáveis, lá fora e aqui dentro. Para onde elas nos chamam?
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