16 – Feliz aniversário, Mahal! (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira, hoje excepcionalmente na quinta-feira)
Meu filho, mal posso acreditar, você está fazendo oito anos! São 70 mil horas ao seu lado e uma infinitude de aprendizados. Sempre que falamos da grande aventura que foi receber e trazer aquele bebezinho tão lindo ao mundo, você me pede para eu contar de novo a história do parto. Foi mesmo tão incrível e extraordinário, que resolvi escrever um diário. Comecei quando fiz o teste de gravidez, relatei os nove meses de gravidez até o seu nascimento, e acabou virando um livro que talvez você leia um dia. Entretanto, tudo que aconteceu desde então, todas as horas transformadoras e avassaladoras de renascer como mulher-mãe através de um trabalho amoroso e contínuo, não estão nem perto de ser um livro. Sei que estou devendo algum registro para nós e prometo que tentarei fazer um dia. Ainda assim, mais uma vez chegou o seu dia e, como não poderia ser diferente, tenho que escrever uma cartinha de amor para quem veio trazendo todos os desafios e infinitas bênçãos.
Algumas noites atrás, antes de dormir, na hora de agradecer por todas as coisas boas que vivemos durante o dia, você começou a chorar bem de mansinho. Perguntei o que estava acontecendo e você respondeu: “Um dia você vai morrer, o papai vai morrer e eu vou morrer. Não quero renascer em outra família, essa é a melhor família do mundo!” Você tem um jeito de sempre me fazer rir e chorar e me lembrar que, sim, essa é a melhor família do mundo, ainda mais quando nos lembramos de agradecer. Claro que há outros dias, em que brigamos, você reclama e diz que sou a pior mãe do mundo, mas sempre dura pouco. Ainda bem. O lugar onde estamos se torna muito especial, é o melhor lugar para estar aqui e agora, quando o abraçamos com o coração. E é mesmo! Nada como dormir juntinho com você e papai, e acordar com um menino de oito anos, cheio de energia e curiosidade pelo mundo, que me ensina mundos e inventa histórias incríveis e surpreendentes a cada dia. Obrigada por existir, meu filho, obrigada por cada dia passado ao seu lado.
Seus ensinamentos começaram já antes mesmo de você nascer. Quando você era só um feijãozinho dentro de mim, ouvi você sussurrando baixinho: Música! Iniciava a minha metamorfose e o entendimento cada vez mais profundo de que, para crescer espiritualmente, temos que morrer constantemente para quem éramos. Você veio trazendo música e poesia, em todos os sentidos. O parto foi um dos momentos mais marcantes de minha vida, não só pela dor física que ele proporcionou, mas por todo o processo profundo de preparação para ele. É claro que nunca estamos plenamente preparados para morrer, mas faz uma diferença a forma como entramos na dissolução. Lembro que, no auge da dor, tudo parou de repente. As parteiras me perguntaram o que estava acontecendo e eu disse: “acho que estou morrendo”. E uma delas respondeu: sim, você está mesmo. Então vamos trabalhar. Levanta!” Ainda que eu não tivesse mais forças, elas me fizeram agachar e levantar várias vezes, em uma dança de várias pequenas mortes, até você nascer. Entendi ali visceralmente que toda vida nasce com sua parcela de dor e a felicidade não é ausência de dor, mas aprender a navegá-la. Não é pouca coisa, é o mais profundo ensinamento que já recebi em minha vida, junto com o maior de todos os presentes: você. Por isso e por tudo, hoje e sempre, eu agradeço.
Para quem quiser ler o relato de minha gravidez e do parto, aqui vai o link: https://www.amazon.com.br/Di%C3%A1rio-uma-gravidez-Antonella-Yllana-ebook/dp/B07DMZPQXH/ref=sr_1_4?crid=S16PMXJV34SL&keywords=antonella+yllana&qid=1681987757&sprefix=antonella+y%2Caps%2C320&sr=8-4