A Perda da Verdade

A Perda da Verdade (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-Feira)

Sentir-se perdido faz parte, não acha? Penso que é quase mais desejável do que acreditar que estamos no bom caminho. De certa maneira, estar certo quer dizer que sabemos a verdade. Para isso, teríamos primeiro que defini-la. O que é a verdade para você? É o oposto da mentira? É estar de acordo com os fatos? É claro que a coisa não é tão simples assim, ainda mais no mundo atual, onde notícias falsas elegem até presidentes. Só fatos não bastam para estabelecer a verdade, pois há muitos níveis naquilo que sentimos como verdadeiro. Sim, sentimentos contam. Geralmente, são eles que nos levam às nossas tão estimadas verdades pelas quais, muitas vezes, estaríamos dispostos a morrer e, quem sabe, até mesmo matar.

Então, qual é a verdade? Aquela pela qual coloco minha mão no fogo, aquela na qual acredito cegamente, com ou sem investigação cuidadosa, dos fatos e de mim mesmo, de minhas inclinações naturais e meus vieses? Aquela que afirmam os meus pais, minha comunidade, meu país, minha cultura, minha religião, minha família, minha educação, meu partido político, meu time de futebol, minha intuição, na qual tanto confio? A verdade está em escrituras muito antigas, escritas por homens rústicos de outros tempos, que afirmavam conhecer a verdade? Ou será algo muito mais simples, o sol que emerge do mar, de manhã, e se deita quando a noite chega? A verdade está no mundo plano que eu consigo ver, no horizonte que posso alcançar, ou estará mais além, ali aonde nunca saberei chegar?

Por incrível que pareça, mesmo que não haja respostas, as perguntas importam. Enquanto houver mais perguntas que respostas, pode ser que haja uma sombra de verdade, um toque suave de algo que não nos dá razão, mas nos engradece justamente por isso. Possuir uma verdade é afastar-se de todas as outras. Mas como viver sem nenhuma verdade? Como caminhar, como falar, como sonhar sem nada saber? Bem, talvez a verdade não possa nem queira ser possuída. Imagine um mundo sem verdades, no qual todos sabem que não sabem: seres nus de certezas, filhos do nada, entidades da terra, nômades do entendimento. Humanos que se encontram e se reconhecem em sua medíocre e grandiosa humanidade. Não me parece um mundo tão ruim assim. Mais do que fazer parte, sentir-se perdido talvez seja a soma das partes, ali onde a verdade acontece, além das ideias que temos sobre ela.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.