
44 – A Nova Morada (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)
Alguns dias atrás esqueci o Código postal da casa em que vivo há 25 anos. Embora esquecimentos não sejam incomuns para mim e minha memória tenha má reputação, minha primeira reação foi de preocupação. Afinal, o endereço de mais de vinte anos é uma informação básica, quase como o nome e a data de nascimento. Há tantos casos de Alzheimer por aí, incontáveis informações transbordando do cérebro cansado, múltiplas tarefas esperando nas sombras dos afazeres sem fim, um estresse latente como pano de fundo e inúmeros esquecimentos que decorrem ou não de toda essa loucura generalizada. Escrevi na listinha do ano que vem que, além do check-up de sempre, vale fazer um exame neurológico. Ainda assim, pensei que esquecer pode ser também um evento mágico.
A última vez que me aconteceu dessa forma foi dez anos atrás, alguns dias antes de meu filho nascer. Em meio à tempestade de hormônios, o atendente de uma clínica de Florianópolis me pediu para anotar meu endereço na Bahia. Fiquei boquiaberta ao perceber que não sabia mais o número da minha casa. Pensando hoje sobre isso, percebo que naquela época eu estava de fato prestes a perder a casa que eu tivera até ali e nunca voltaria a ter. Quando voltasse, com meu bebê recém-nascido no colo, retornaria para um lugar em que eu nunca estivera antes. Para a casa de uma mulher-mãe. A partir daquele momento, a maternidade seria a minha nova casa. Ou seja, esquecer pode também indicar um processo mais profundo do que apenas excesso de hormônios e falhas cerebrais.
Mais um ano está acabando. Desta vez, também, talvez não seja só por acaso ou por um apagão neural que eu tenha esquecido onde moro. Talvez uma parte de mim esteja pronta para mudar, de novo. Mudar de código espiritual. Chega um momento em que a vida nos mostra e nós também precisamos mostrar para a vida que estamos prontos para as mudanças de que tanto precisamos, custe o que custar. Prontos para ser quem realmente somos. Para superar infernos mentais, padrões de comportamento, lugares de estagnação, relações corrosivas, dores crônicas. Prontos para nos libertar, ser mais do que temos sido e conquistar nossa nova morada.
Feliz Ano Novo e Felizes Mudanças para todos nós.
