(Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)
Em uma conversa com uma “hermosa chica” uruguaia, de passagem por minha cidade, ela me contou que havia esquecido a carteira de identidade na última pousada em que se hospedara, a três horas daqui. Primeiro, pensara em voltar lá ou até pedir para a dona da pousada mandar o documento para o Uruguai. Contudo, conversando sobre o acontecido e pensando bem, decidiu que seria mais simples fazer um novo documento quando voltasse para o seu país. Tomou aquilo como um sinal de que as mudanças que viera fazer estavam de fato acontecendo e que perdera o papel porque estava morrendo e renascendo. Precisava de uma nova identidade. Sem dúvidas, uma interpretação interessante.
Contou também como, durante sua viagem, várias vezes fora convidada a mudar de perspectiva. Pessoas que encontrara pelo caminho haviam reagido de formas totalmente inusitadas diante de acontecimentos que antes a teriam enlouquecido de ansiedade, como chegar atrasada, quebrar algo sem querer ou mudar planos de última hora. Na casa de sua família, situações como essas eram recebidas com grandes doses de estresse e rigidez, que ela carregara consigo ao longo da vida. Recentemente, sofrendo de falta de energia e problemas recorrentes de saúde, após o fim de mais um relacionamento infeliz, resolvera vir ao Brasil fazer um retiro. Desde então, algo nela se abrira. Sentiu que, enfim, conseguira abalar um pouco estruturas arraigadas e envelhecidas que só a faziam sofrer. Estava mudando.
Mudar é processo de uma vida inteira. Estamos sempre mudando. No entanto, querer mudar, dar os passos necessários para conhecer outras versões de si, não se contentar com os pesos que carregamos e as dificuldades aparentemente normais que impomos a nós e aos outros, isso é coragem. Não é fácil soltar. Muitas vezes, entortamos nosso corpo, moldamos nossos dias, lutamos com ferocidade para defender justamente o que nos faz sofrer, só porque um dia alguém que amávamos nos ensinou direta ou indiretamente que esse era o caminho. Uma lealdade geralmente inconsciente nos aprisiona a esses ensinamentos que compõem a fundação de quem somos e nos impede de desconstruir e reconstruir a vida de outra forma. Numa sociedade em que há tanto sofrimento, deveríamos aprender, também e sobretudo, a desaprender e questionar para podermos enfim fazer diferente. Como isso ainda não ocorre coletivamente, cabe a nós desbravarmos os caminhos para uma existência mais leve.
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