Amor é silêncio.
E o resto, também.
Mas onde tudo se cala, tudo se faz.
Não é questão de acreditar, não está na religião
No nome que você quer dar ao que não sabe explicar.
É mais um autocuidado, um estar consigo, quando a dor vem, quando ela vai, ou a alegria bate à nossa porta.
Voltar para dentro. Ficar quietinho. Sentir.
Mas, veja bem, há diferentes tipos de quietude.
A que nos acalma, descansa, até nos leva para a cama, por não querermos mais. Quando um pouquinho já acaba sendo demais.
A outra, como um espelho, que nos perturba, assusta, revela. O que queremos e não queremos saber. Profundezas, raízes, causas e efeitos, a teia do passado, mãe do presente, vidente do futuro.
É quando muita gente desiste. Do relacionamento, da espiritualidade, do sonho. E é difícil mesmo.
Se olhar não é para qualquer um, requer um bocado de leveza, um tanto de humor. Uma firmeza impecável. Uma grandeza sutil, suave, gentil.
A finura de se abrir e ser disponível para o que realmente vale a pena. A delicadeza de não desperdiçar o tempo. A candura de aceitar a própria pequenez, sem perder a alegria.
E depois, se você conseguir ficar consigo, vem a coisa.
Onde tudo vibra, tudo dança, tudo se toca. A matéria da vida. O oceano lá dentro. Mergulhos. Profundos, vastos, vastidão, de que não se pode nem mesmo fazer ideia, pois já não cabe nas ideias nem nas veias. Quando alguém é tocado pelo silêncio sagrado. Paz que vem da foz, amor que vem da escuta.
Abraçar, primeiro a si, para depois poder abraçar verdadeiramente o outro, mesmo que esse abraço seja um afastamento.
Abraçar o momento, por mais que o mundo ao redor fique chamando. Sempre tacanho, o mundo sem amor. Por mais que reclame, constante, incessante, infinitamente. Para dizer sim, precisamos dizer não.
Abraçar a quietude.
Afinal, o chamado da alma é o encontro marcado com a vida.
De repente: nada mais importa e tudo importa muito mais. Muda tudo. Valores, pesos e medidas. Surpresos, nos perdemos, buscamos, redescobrimos. Sentimos a natureza que somos, tão dolorosamente magnífica. Sentimos amor, simplesmente.