Sabe aquela conversa em que a pessoa fala, fala, e você não entende nada? E aí tem várias possíveis maneiras de reagir. Abrir o jogo e dizer, meu bem, eu estou boiando. Colar um sorriso amarelo na cara e fingir que está achando ótimo. Fazer que sim com a cabeça e confirmar com um ãhã que sacou tudo. Suspirar aliviado, ah, eu penso exatamente assim, isso também já aconteceu comigo. Ou começar a bocejar e inventar uma desculpa para sair dali o mais rápido possível…Mas e se conversar não fosse necessariamente sobre entender? Muitas vezes, conversamos só para ver nossos próprios pensamentos confirmados, para nos certificarmos de que não estamos sozinhos em nossas certezas, para nos sentirmos validados no que pensamos e fazemos. E se conversar pudesse ser muito mais do que isso?
Eu não entendo e nem tenho como entender você totalmente. Não quero necessariamente que você pense como eu. Pelo contrário, é o seu mistério que me interessa. Os detalhes ocultos que, somados, fazem você balançar a cabeça de certa forma, formam a musicalidade das suas frases, untam os seus movimentos com suavidade ou os fecham com rigidez. Será que você percebe os seus detalhes? Sabe medir o impacto de sua voz em meu corpo? Tem poesia nas suas escolhas? Quero observar sua gentileza irrefletida, aquela que vem naturalmente quando você relaxa e simplesmente respira comigo. Ou a sua arritmia, quando fica preso em ideias e sentimentos e o mundo se encolhe todo no miniverso limitado de sua visão. Será que conseguimos sair do tempo? Quanto de silêncio há nas suas palavras, quanto de escuta na sua audição? Qual a textura daquilo que você cala, a cadência do que você sente?
Se a gente conversa querendo conversar, mostramos um ao outro as nossas paisagens. Muitas vezes, elas não são as mesmas. Mas estamos aqui. Nossos mundos esbarraram e convergiram neste momento. Talvez isso não aconteça nunca mais. Ou, quiçá, este seja apenas o primeiro de muitos encontros. Eu não quero entender você. Como poderia? Só quero sentir se os espaços entre as palavras são vastos o suficiente para navegarmos juntos. Não estamos aqui para caçar uma imagem e prendê-la numa caixa nem para servir de espelho só para o que o outro quer ver em nós. Somos espelho, sim, na forma mais ou menos curiosa como dançamos, movidos pela expectativa sempre fadada à frustração ou pela curiosidade e alegria da descoberta. Responder pode ser só outra forma de perguntar. E assim, a gente vai se surpreendendo rumo ao sublime. Por isso: não, eu não quero saber. Quero mergulhar.