46 – Quando a Cabeça está Cheia (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)
Quando a cabeça está cheia, o mundo fica vazio. Não há mais nada lá fora, tudo é aqui dentro, é a grande montanha-russa do pensamento.
Quando a cabeça está cheia, tudo é barulho e a música se esconde, não sabemos como ou onde a perdemos, ela simplesmente desaparece ou a gente esquece do que é ouvir e sentir.
Quando a cabeça está cheia, somos comida para o momento voraz, marionetes de uma ansiedade mordaz, que vem sorrateira e se instala por inteiro sem que nada sobre a não ser uma exaustão atroz.
Quando a cabeça está cheia o mundo é feito de títulos e coisas, números e cálculos, a conta nunca fecha, o desfecho é sempre fatal num universo em cuja existência mortal se resume à luta pela sobrevivência.
Quando a cabeça está cheia somos nada mais que areia, engolida pelo espaço vasto, que já não sabemos ser, somos o que não somos, o gasto das horas inúteis, os afazeres fúteis que queremos esquecer, carne em seu constante arrefecer, o tempo inclemente a escorrer.
Quando a cabeça está cheia, nada resta senão pausar, antes que o corpo tente remediar e a vida nos force a parar, tentar entender e perceber, que ser é maior do que ter, e viver é mais do que calcular, é respirar e sonhar, cair e levantar, dançar e voar, é o direito inalienável de amar.