A escola de meu filho trabalha com uma metodologia de ensino chamada Aprendizagem Baseada em Projetos, que não usa notas nem provas para avaliação, mas que avalia a capacidade de participação, colaboração e motivação do aluno para definir se ele pode ou não ir para a próxima fase de aprendizagem. Esta semana, ele acabou um de seus primeiros projetos, a árvore genealógica. Mamãe, papai e filho trabalharam juntos por alguns dias, foi uma atividade super interessante. Houve um momento em que estávamos ali, desenhando a árvore, e não pude evitar de me surpreender com a extensão e o peso do que nos antecede. É claro que todos sabemos disso, mas ver no papel tudo que teve que acontecer, todas as pessoas que tiveram que existir para que nossa vida pudesse acontecer, é impressionante.
Na verdade, a árvore que fizemos só vai até os bisavós de meu filho, portanto é uma parte ínfima de nossa quase infinita ancestralidade, mas ainda assim é enorme. Especialmente num momento em que acabo de ouvir de meu médico que a artrose, uma doença crônica de que sofro, diagnosticada por ele há mais ou menos um ano, provavelmente é genética, a importância dessas heranças se tornou ainda mais presente. Fiquei pensando em todos esses talentos e problemas que carregamos sem muitas vezes ter consciência deles, os traumas e as frustrações, as conquistas e os privilégios, tantas coisas que já estavam ali conosco desde o início. Muitas vezes, nos vemos paralisados, incapazes de progredir e não sabemos por quê. É talvez o melhor momento de olhar para trás e investigar quem somos, não apenas individualmente, mas como membros atuantes de uma ou mais linhagens, de uma ou mais culturas, de uma continuidade histórica. Somos a consequência do que nos precedeu.
Pensar nisso pode ser assustador, mas também fascinante. Não estamos, nunca estivemos nem estaremos sós. Somos descendentes de várias tribos e temos que entender de que modo a influência de nossas origens é positiva e nos fortalece e quais pontos são nocivos, precisam ser reconhecidos e transformados. Numa cultura extremamente imediatista, é difícil reconhecer a importância do que passou, mas as culturas originais sabiam da importância da reverência à ancestralidade. Somente honrando nossas raízes, sabendo de onde viemos, podemos realmente entender para onde estamos indo. Somos animais sociais. Mesmo que vivamos sozinhos, nosso funcionamento é tribal, dependemos uns dos outros para sobreviver. Ainda que a “tribo” moderna na qual estamos todos inseridos seja extremamente individualista, ela é a consequência das escolhas daqueles que vieram antes de nós. Portanto, o nosso futuro como também o de nossa tribo global, dependem do que escolhermos hoje. Até que ponto estamos preparados e dispostos a fazer escolhas que beneficiem essa e as próximas gerações?`
*art by Marcia Sanção