Ao passearmos ontem por um shopping center suburbano de Chicago, paramos diante de um playground para bebês onde, seis anos atrás, levei meu filho para brincar. Na época, ele tinha quase dois anos, se aventurava nas escadinhas da torre que desembocavam em um pequeno escorregador, engatinhava ou andava trôpego por cima dos mini-castelos conectados por pontes ou outras estruturas arredondadas, ainda com a evidente curiosidade de quem descobre formas e texturas.
Animada, perguntei se Mahal se lembrava de já ter estado ali. Do alto de seus oito anos e meio, ele parecia um gigante ao lado dos brinquedinhos, entre dois ou três pequenos que cambaleavam inocentemente por ali como duendes bêbados saídos de um filme. Eu mesma fiquei espantada com o tamanho dos brinquedos, quase teria passado reto por ali, não fosse a mureta que demarcava o local e a pequena torre que se sobressaía. Anos atrás, havia provavelmente uma simbiose tão grande entre mim e o bebê que tudo aquilo me parecia muito maior do que agora.
Meu menino cruzou aquele espaço diminuto em quatro passos e olhou para tudo com a desconfiança um tanto arrogante das crianças que não querem de jeito nenhum ser confundidas com bebês. Já faz um tempo que está vivendo uma pré-adolescência precoce, no conflito constante entre uma parte que ainda se sente vulnerável e quer proteção e a outra que tenta se convencer de que já é grande e independente. Ainda assim, ele acabou se soltando, pulando para cá e para lá, passando por cima das casinhas ou dos canos ou como quer que chamem aquelas figuras fungiformes, sensoriais e coloridas, com a facilidade de quem tem seis anos a mais do que a média de quem frequenta o local.
No banco à minha frente, do outro lado do espaço, uma mãe observava atentamente o filho que tentava a sua sorte ao se erguer, entre uma queda e outra, arriscando dois passos antes de cair novamente, amortecido pelo carpete felpudo. Pensei se naquela época, quando meu menino era pequeno e eu não podia perdê-lo de vista por mais de um minuto, eu teria notado outra mãe com um filho mais velho andando por ali, um tanto deslocado naquele parquinho para crianças muito menores do que ele. Provavelmente, não. Senti um carinho involuntário e um pouco nostálgico de quem visita o próprio passado. Como eram belas aquelas pequenas grandes descobertas dos bebês!
Perdida numa contemplação inesperada, percebi naquele instante que realmente não havia deixado nada a desejar, vivi aquela fase plenamente. Nos primeiros anos de maternidade, abandonei o mundo e os sonhos e tudo que não fosse o momento presente, soltei alegremente a mim mesma para poder experimentar cada minuto, cada tombo do qual meu bebê sempre se levantava, olhando assustado ao redor, até que me descobria, ali, invariavelmente sentada ou em pé ao lado dele, vigiando cada um de seus movimentos. Logo, ele encenava uma espécie de corrida desesperada com suas perninhas inebriadas de alegria e os bracinhos tentaculares que me envolviam em abraços absolutos.
Ao sair do playground, Mahal saiu correndo, como fazem os rapazinhos que não precisam mais da mãe ao lado, deixando o passado definitivamente para trás. Em poucos segundos, estava bem mais à frente, distraído por uma vitrine cintilante ou um monstrengo que atirava, girando em volta de si mesmo. Já eu, cada vez mais lenta pelo tempo que passa e uma artrose que devasta os movimentos, parei para olhar novamente o bebê equilibrista que tentava escalar o primeiro degrau da escadinha da torre. Ele se virou para mim, nossos olhos se encontraram e ele sorriu, orgulhoso da própria façanha. Daqui a seis anos, eu pensei, talvez ele volte a passar por ali e a mãe conte que, um dia, por alguns minutos, enquanto vencia a distância entre um passo e outro, aquele castelinho havia sido todo um universo para ele e, também, para ela.