Amadurecer é aceitar que não estou preparada.
Não estou preparada para as despedidas, para os espaços vazios deixados por aqueles que estão partindo antes de mim.
Não estou preparada para ver meu filho crescendo, para nutrir sua alma e suas raizes, ao mesmo tempo, afinal, nunca estive preparada para ser mãe.
Não estou preparada para ser filha e mãe da minha mãe, e abraçar toda sua fragilidade, como ela abraçou a minha, e amparar os seus problemas e temores, e muitas vezes não poder ajudar.
Não estou preparada para ser esposa, para revelar meu crescente despreparo ao homem que amo, e aceitar que amar é isso mesmo, é maravilha e é terror, é ver e ser vista em minha totalidade.
Não estou preparada para retribuir a grandeza do afeto e a incomensurável ajuda da minha família, de sangue e de espírito, dos meus amigos e irmãos, não estou preparada para ser responsável por eles, mas sou.
Não estou preparada para cuidar da saúde, mental, física e espiritual, da minha, como também da minha casa e da minha rua, do meu bairro e da minha cidade, do meu país e do meu planeta, então cuido um pouquinho aqui e um pouquinho acolá, e deixo sempre a desejar.
Não estou preparada para não conseguir fazer tudo que planejo, para não cumprir minha palavra, para não estar disponível para quem precisa, muitas vezes nem para mim mesma, para não estar à altura, de quem pensei ser, do grande privilégio que é estar viva, não estou preparada para ser irresponsável, mas às vezes não tem jeito, é assim que acontece.
Não estou preparada para ser menor nem maior do que meu sonho, para entender que nunca vou me encaixar em sonho algum, mas, pelo menos, não paro de sonhar.
Não estou preparada para envelhecer, para encontrar uma desconhecida no espelho, para a flacidez da pele, os cabelos brancos, as dores nos ossos, nas juntas, nos pensamentos, a dor do tempo.
Não estou preparada para as coisas práticas, para as filas de bancos e supermercados, para o peso e o preço das coisas, que só aumentam, ou talvez sejam minhas forças que diminuem, não estou preparada para fazer contas, pagar contas, pensar em contas, para ter dívidas, para carregar as dívidas dos outros.
Não estou preparada. Para não ter sempre um livro em mãos, para não escrever, não compartilhar meus escritos com mais gente, não levantar voo com meus escritos, ah, isso sim dói muito.
Não estou preparada para saber, mas saber de verdade, a cada passo e a cada respiração, que tudo passa, passa cada alegria e cada tristeza, e passo eu também. Não estou preparada para a beleza dilacerante da vida.
A verdade é que não estou preparada para viver nem para morrer. E tudo bem, mesmo quando não está tudo bem, porque é o que tem, porque viver não é sobre estar tudo bem. É caminhar e adentrar as paisagens, é sentir todos os sóis, todas as luas e todas as chuvas, é ver o dia que vem e e o dia que vai. É movimento, é espanto, é vento. Sou eu, viva ainda, apenas preparada para estar despreparada.
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