Amor é que nem plantinha. Tem que regar todo dia ou pelo menos quase todo dia. Não tem jeito, não tem saída nem desculpa. Se não regar, morre. Não é tão difícil assim, mas é trabalhoso, porque não dá para regar de qualquer jeito ou com qualquer mistureba. A sobrevivência do amor tem suas particularidades, seus aspectos científicos e sagrados. Assim, por exemplo, quando um médico faz de tudo para que uma pessoa não morra na cama do hospital, ele depende também da resposta daquele organismo específico, de como ele vai reagir diante das suas intervenções, se vai aceitar ou até mesmo querer continuar vivo. Enfim, a medicina depende também do aspecto “mágico” ou “imprevisível”, inerente à existência, que não podemos controlar, mas com o qual interagimos o tempo todo.
Com o amor é a mesma coisa. Primeiro, há a faísca divina, a descoberta da essência do outro, que geralmente acontece como uma epifania. Nós nos apaixonamos, descobrimos a luz da pessoa e, de repente, ela se torna nosso sol, a presença dela nos aquece, dá vida e coragem para seguir em frente, tudo fica mais bonito graças a ela. Só que, depois da fase inicial, é comum que a visão volte a se turvar e a realidade retorne à sua costumeira mediocridade. Como com tudo na vida, é sinal de que chegou a hora de trabalhar. Para que a mágica continue acontecendo, a abundância siga se manifestando, tem que namorar, mas não de qualquer jeito. Tem que virar bruxo, fazer magia, achar os caminhos para conseguir novamente despertar e enxergar a estrela do outro, para redescobrir o encantamento do encontro, de modo que a relação seja uma dança e não um confinamento.
Revigorar a paixão pelo outro tem que passar antes por revigorar a própria paixão. Daí a necessidade de fazermos uma poção mágica que tenha as medidas justas de todo o necessário. Vamos precisar de uma ilha da sanidade, um cantinho sagrado, e também de um caldeirão nobre, onde deixaremos nosso elixir fervilhando dia e noite, como aquela sopa eterna tailandesa, que está sendo preparada há 45 anos, sem jamais parar de cozinhar. É importante que nunca passe do ponto e a cada dia adicionemos a ele uma boa dose de bom humor, disponibilidade, alegria, entusiasmo, criatividade, loucura boa, paixão pela vida, sem nunca esquecer de mexer bem. Beberemos diariamente do nosso feitiço, em doses homeopáticas, mas às vezes também mergulharemos nele, como Obelix, e nesses momentos não nos importaremos com os exageros, simplesmente transbordaremos de amor.
Dependendo do tamanho do nosso investimento diário, já não estranharemos se, de repente, começarmos a dar e receber longas massagens, poemas e flores, se depois de velhos voltarmos aos ardentes beijos de língua, como quando éramos adolescentes, se do nada chegarem vários tipos de surpresinhas e atenções especiais do nosso namorado. Não nos assustará mais tanto nem parecerá tão distante a possibilidade de sermos felizes para sempre com quem amamos, já que para sempre é simplesmente o movimento profundo de nossa atenção, o empenho sublime no aqui e agora, o fervilhar do feitiço de cada instante.