Há livros que ficam com a gente por toda a vida. Tenho tentado apresentar alguns deles ao meu filho. Desde que ele era bebê, criamos o hábito da leitura antes de dormir. Hoje, se por alguma razão estou cansada demais, ele reclama e insiste que, ainda assim, leia pelo menos um pouco para ele. Um dos livros que lemos várias vezes juntos é “A Árvore Generosa” de Shel Silverstein. De tempos em tempos, ele pede para lermos de novo, não somente porque o livro é lindo, mas também porque eu sempre choro no final. Minha reação o deixa fascinado, talvez por eu não chorar com frequência. Deve ser bacana trocar um pouco de papéis e não ser sempre ele quem cai no choro. Ainda mais porque não é um choro qualquer, tem a ver com a leitura. Por isso, toda vez que lemos esse livro específico é a mesma coisa, ele fica só esperando as minhas lágrimas e, depois de tantas repetições, acho que acabo chorando mais para agradar a ele. De qualquer forma, adoro esses momentos em que nos deixamos transportar juntos pelas histórias. Além disso, chorar por um livro bonito não deixa de ser libertador.
Ontem, estávamos como sempre deitados na cama, aconchegados sob a coberta, de banho tomado, dentes escovados e só faltava ler um livro antes de apagar a luz e dormir. Recentemente, ele perguntou do livro de Silverstein e, alguns dias depois, o achei na estante. Fazia um bom tempo que não o líamos. À noite, ele se alegrou ao ver que eu o tinha achado, ao rever a capa verde e brilhante, as ilustrações simples e tocantes. Começamos a ler e, quando chegamos à metade, ele olhou algumas vezes em minha direção para ver se havia algo chegando. De fato, por um momento, eu havia até me emocionado, mas ainda não a ponto de chorar. Só que, de repente, algo aconteceu: ele havia se esquecido completamente da minha existência. Seus olhos se fixaram intensamente na página que estávamos lendo, e na próxima, e na próxima. Quando olhei novamente para o lado, lágrimas corriam por seu rostinho. O texto chegou ao fim e o que era uma emoção tímida virou um pranto muito, mas muito penoso e doído, de quem havia sentido a dor na alma. Pela primeira vez, ele tinha realmente entendido. Meu filho está crescendo, pensei. Fiquei ali, ao lado dele, acariciando seu cabelo farto e sentindo os soluços atravessando seu corpo. Era um momento memorável: meu menino estava chorando por um livro!
_Mamãe, por que alguém escreve uma história dessas? – ele reclamou, pesaroso. _É tão triste!
Pensei um pouco e respondi:
_Bem… Há histórias estranhas, histórias assustadoras, histórias engraçadas e histórias tristes. Há todo tipo de histórias. Essa é uma história triste, mas não deixa de ser bonita.
_Aaaaaahhhhhh, que triste, que triste!…. – ele chorou ainda mais, se jogando dramaticamente em meus braços. Apaguei a luz e fiquei ali com ele, acolhendo seu choro em silêncio, permitindo que ele vivenciasse plenamente aquele momento tão importante. Depois, poderíamos falar sobre aqueles sentimentos, mas naquele momento, bastava sentir. Aquela tristeza, uma tristeza essencial, que só certos livros podem despertar, era a literatura se abrindo, era sua humanidade brotando. Ele tinha passado por um portal mágico e, a partir de agora, muitos outros mundos, profundos, intensos, incríveis, poderiam se abrir para ele.
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