20 – a ecologia da educação (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

– Mãe, me pergunta alguma coisa?

– Que tipo de pergunta?

– Qualquer uma, ora! 

Sorrio e reflito um pouco. Por que não tentar logo uma das mais difíceis? Gosto de ouvir respostas que têm a simplicidade como filtro. 

– Mahal, qual o sentido da vida? 

Achei que ele fosse parar e pensar, talvez até reclamar e desistir, mas, para o meu espanto, ele não hesita nada antes de dizer:

– Ah, é o amor, né?

Por um momento, fico sem ar, pega de surpresa. Claro que ele tem razão, mas muitas vezes eu mesma me esqueço e não saberia responder com tamanha clareza e rapidez. Por mais que eu acompanhe de perto o desenvolvimento dele, há 9 anos já, volta e meia ele me surpreende com sua lógica irrefutável.  Não sinto dúvida alguma em sua afirmação. E ele ainda continua:

– E cuidar de você.

– Cuidar de mim??? Como assim?

Essa, então, eu não esperava de jeito nenhum.

– É claro, mamãe! Cuidar de você como você cuidou de mim. 

Quero protestar, dizer que não, que o sentido da vida é realizar sonhos, viver a aventura existencial, ir em busca da missão espiritual, algo assim. Vários argumentos inundam a minha mente. Quero afirmar que eu nunca ensinei ou pedi isso a ele, que ele não tem que se preocupar com esse tipo de coisa, muito menos nessa idade. 

Mas não digo nada. Sorrio intrigada, pensando dez mil coisas ao mesmo tempo, sem querer pronunciá-las e estragar o momento. Sem querer interferir numa resposta tão pura. É verdade que o pensamento de cuidar de quem a gente ama, dos nossos pais e anciãos, não faz parte de nossa educação individualista. Quem tem tempo e meios para isso hoje em dia? A maioria não tem nem tempo para cuidar dos próprios filhos! 

No entanto, ao não abrirmos espaços para o cuidado mútuo, o mundo vai ficando cada vez mais cinza. Pensar em cuidar se estende às pessoas, ao mundo e à natureza ao nosso redor. Mahal já chegou a dar um escândalo quando viu algumas crianças querendo matar um caranguejo na praia ou alertou enfaticamente turistas que não se deve jogar lixo na praia. 

Claro que meu filho não é nenhum santo. Ele é capaz de dar risadas maquiavélicas ao ganhar de mim no UNO e chiliques irritantes quando eu ganho. Se deixarmos, ele se entope com dezenas de brigadeiros, bolos, hambúrgueres e frituras até não poder mais, bebe de garrafas descartáveis, sabendo que tudo isso prejudica a saúde e a natureza, sem peso algum na consciência. Obviamente, tem a ver com falhas da educação e padrões de comportamento dos adultos de referência.

Por outro lado, há o cuidado diário de todos nós com a avó dele. Mahal cresce testemunhando essa dinâmica familiar, ele a interiorizou como normal. É natural fazer isso, é o que a gente faz quando a gente ama. Esses cuidados com os mais velhos incluem: assumir as tarefas práticas da casa, comprar e dar remédios, servir comida, atender chamadas, ajudar nas horas de desamparo e angústia, entre muitos outros. Enfim, cuidar daqueles que cuidaram de nós. Não é fácil, pelo contrário, mas tem sua beleza. 

Visto assim, como a manifestação natural do sentido da vida, de amar e ser amado, cuidar não tem tanto peso. É simples. 

É o tal do ensinamento óbvio, que muitas vezes a gente nem percebe que está acontecendo. As crianças aprendem muito mais com o que fazemos do que com nossas palavras e lições de moral. Na ecologia da educação, elas aprendem pelo exemplo.

Por isso, resolvo não discutir, permito o transbordamento do coração e dou um abraço bem apertado no meu menininho:

– É isso mesmo, querido, você tem toda razão.

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