45 – Por quê, mamãe? (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

_Por que as pessoas cometem suicídio, mamãe?

Ah, a maternidade. 

Foi uma manhã suave, eu acordei cedo, meditei vinte minutos, despertei o menino com uma música que ele gosta, de um de seus animes preferidos, “The Honoured One”, coçando as suas costas, alimentei os bichos, dei os remédios para a minha mãe, me certifiquei que a pintura da casa estava avançando. E agora essa. Uma pergunta que não sabe do próprio peso, que exige uma resposta pronta e segura, que vai criar um vinco no tempo. Que imensa responsabilidade. Educar. Tudo que eu falar cairá no abismo se não for a mais profunda verdade de meu coração. Mas qual será a verdade? 

O ônibus está andando, estamos indo para a aula de futebol. Ele tem se sentido curioso em relação a filmes de terror, perguntou o que acho deles, ouviu falar do tema em uma das milhares de músicas que fica pesquisando e gosta de escutar. Eu disse que não gosto muito desses filmes porque já há terror e violência suficientes na vida real, mas que eu sei apreciar e reconheço o valor de alguns que assisti, como os primeiros que me foram apresentados, de Hitchcock. Ele escuta em movimento, cantarolando e resolvendo o cubo mágico, às vezes me pergunto se ouve o que eu digo e descubro muito depois que ele está sempre ouvindo, quando repete ao acaso coisas que eu disse.

_Provavelmente porque elas não conseguem mais sentir amor, perderam as esperanças, não acreditam mais que vale a pena viver. – sugiro cuidadosamente e ele levanta o olhar.

_A pessoa desistiu, está deprimida?

_Sim, ela está sofrendo muito. Mas não é só ela que sofre, todas as pessoas ao redor dela, que sentem amor por ela, sofrem muito também. Imagina se alguém que você ama fizesse isso?

_Seria horrível.

_É um filme de terror da vida real. Para mim, a vida é uma oportunidade e uma bênção. Não é fácil, mas é incrível. Só que tem pessoas para quem é difícil demais. 

_Tenho medo, mamãe. Medo de que tudo isso vai desaparecer, medo de te perder.

_Também tenho medo, mas sei que estaremos sempre juntos no coração. É muito maior do que estar um ao lado do outro. É amor. 

Pronto. Claro que nada do que eu disse é uma solução. Não há uma solução. E´ o que me vem agora, antes do ônibus chegar ao destino final. É a minha forma de caminhar, a única coisa que posso oferecer. O que me ajuda e não me deixa cair. 

Logo, uma pergunta engata na outra, ele pula alegremente para novos assuntos. Como se nada fosse. Mas foi. E eu teria passado por esse momento como passo por muitos outros, vivendo-o intensamente, provavelmente esquecendo até o fim do dia. Só que agora, diante da tela em branco e da urgência de escrever nem que seja só um pouquinho, ele ressurge. E eu sei que, mesmo que caia no esquecimento, a vida não esquece. Um dia, lá na frente, em algum desvio necessário para a sua caminhada, meu menino sofrerá, como tudo mundo sofre. Rezo para que, mesmo quando tudo estiver sombrio e triste, ele consiga se lembrar que, em algum lugar remoto, mas muito próximo, em algum lugar aqui dentro, o amor existe. E isso lhe dê forças para se levantar e recomeçar. 

Por favor, meu filho, lembre-se. Te amo.