23 – A Ilha de Cada Um (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

Para mim, para você, para ele, para ela, não há um dia que passe que eu não encontre alguém que me diga que está passando por tempos difíceis. Claro que todos sabemos que a vida é assim mesmo, não é fácil para a grande maioria, vamos de ilha em ilha, sem poder parar, navegando por oceanos turbulentos, com a esperança de conseguirmos levar um pouquinho de vida e sanidade de cada ilha que nos abriga por algumas horas ou alguns dias. Quanto mais passa o tempo, mais fica claro que a única estabilidade possível, o único verdadeiro abrigo é aqui dentro. 

A minha ilha da sanidade são a minha família e os meus amigos, as minhas práticas espirituais, minha meditação, meus estudos, meus rituais e cerimônias, os momentos de contemplação junto à natureza, os meus livros e escritos, momentos como esse, em que escapo da atividade incessante e enlouquecedora, do eterno fazer, e simplesmente paro para ser, sentir, refletir, criar algo novo, compartilhar meu coração com conhecidos e desconhecidos. Momentos impagáveis e gratuitos, ao mesmo tempo, que não pedem nada além de nossa entrega e atenção. É pouco, mas é muitíssimo. Na verdade, é nosso bem mais precioso. A atenção. E você, qual a sua ilha da sanidade? 

Todos os dias, ainda mais agora, em meios aos terremotos, vendavais e furacões do dia a dia, quando tudo parece estar desmoronando em mim e ao meu redor, tento me lembrar disso, por alguns instantes, desperto o foco difuso em meio à loucura, por alguns instantes, respiro e sinto cada um de meus passos e me lembro. Estou viva. E o que é viver senão um caminhar no escuro, um passo a passo no espaço vasto de nossa ignorância, uma descoberta constante do novo, um mistério profundo e intenso, do início ao fim? E aí me lembro de minhas raízes fincadas na terra sagrada da minha ilha, sinto minha copa aberta balançando rumo aos céus, recebo, acolho, agradeço e solto meus pensamentos aos ventos.