41 – carta de um soldado (Quando as Nuvens Dançam – Reflexões de Quarta-feira)

Pode ser que você também esteja lutando uma luta que não é sua em um mundo que não é seu porque você não o escolheu. Pelo menos não ativa e conscientemente. Talvez a sua guerra inescapável tenha começado cedo, antes de você nascer, com seus pais, avós e bisavós. Pode ser que seja mais recente, a guerra da falta de sentido ou da doença que carcome o corpo por dentro, uma luta que brotou há pouco tempo, mas que também tem raizes profundas, mais fundas do que o coração consegue ver. Talvez você nunca tenha nem mesmo querido lutar e essa seja uma batalha que nasce da sua falta de força, coragem ou discernimento ao escolher onde, para o que e para quem vai viver e morrer.

Pode ser que tenha perdido grande parte de seu tempo e que agora acabe perdendo o pouco que lhe resta. O novo dia começa, mas de novo ele tem pouco. Você está na trincheira, como eu, e cada gesto seu é uma carta que você está escrevendo involuntariamente para a criança que foi um dia, para o adulto que seu filho será, para aqueles que se importam, para os outros que desconhecem a sua existência e todos que não estão aqui, na fronteira do tempo. Você olha em volta e, ainda que esteja sozinho diante da morte, há muitos outros como você aqui. Quase todos sem saber, sem querer. Você é uma pessoa comum entre pessoas comuns de destino comum, tentando falar sobre uma esperança que já não tem. Ou acha que não tem porque, de repente, antes do mundo explodir, algo implode em você.

Então, finalmente, você se levanta, reúne todas as suas forças e decide escrever: meu amor, seja você quem for, qualquer que seja a sua luta, saiba que eu amo você. Amo, não porque você me deu ou dará alguma coisa, não por esperar o que não será. Amo porque, ainda que meu mundo esteja acabando, o sol continua brilhando. Amo porque lhe desejo que o seu melhor seja melhor que o meu. A esperança que me falta, ela é sua, para que viva cada dia com alegria. Amo porque, na trincheira, o amor não é mais meu. É todo seu. Você é o meu eu que sobreviveu. Você é meu eu que se levantou e teve a força de dizer não. O seu não será ouvido pelo mundo inteiro, pois todo não verdadeiro é um sim à existência. Por isso, ame, ame muito, ame mais, seja a paz que eu não soube ser e que quer ver no mundo. Entenda que, para isso, não há outra saída senão lutar. Escolha cuidadosamente as suas lutas. Lute por sua verdade mais profunda. Não importa se ganhar ou perder, o importante é lutar. 

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