
O professor deixou o olhar passear pelos rostos à sua frente. Não seria a primeira nem a última vez que via aquelas expressões carregadas de expectativa. As pessoas vinham em busca de apaziguamento, mudança, sentido. Era uma grande responsabilidade, a mesma que um dia viu refletida nos olhos do próprio mestre, quando ele ainda era apenas um jovem buscador.
No início, sentira o peso dessas vidas entregues às suas mãos. Aspirantes de todos os tipos, vindos de histórias tão distintas, colocavam nele mais confiança do que ele próprio possuía. Ser aquela luz na escuridão fora assunto sério. Muito sério. E essa seriedade acabou endurecendo, como madeira exposta demais ao sol. Ou talvez fosse apenas a rigidez antiga pedindo para ser vista. Ele acreditava que os alunos precisavam de disciplina, que a falta dela merecia repreensão, e que o professor precisava ser ainda mais rígido, ou se perderia como tantas vezes no passado. Essa dureza o afastou de si e daqueles que dele precisavam.
Mas não desistiu. Persistiu, com a diligência de quem ama e sabe que amar é verbo em constante evolução.
Os tempos passaram, sopraram ventos. Como fruto amadurecido por estações e intempéries, surgiu a flexibilidade necessária para não quebrar. Depois, a suavidade dos que nada têm a provar. A gentileza dos grandes. Finalmente encontrara em si faíscas da luz com que fora ensinado. Sorriu.
— Está claro? Deixem os olhos semiabertos para abraçar a realidade, sem focar em nada, sem rejeitar nada. Permitam que sentimentos e pensamentos surjam e desapareçam, como nuvens no céu. Não há nada a fazer além de se abrirem para a alegria de estarem vivos aqui, agora. Alguma pergunta?
Uma aluna levantou a mão timidamente, como a menina que fora, tantos anos atrás. Tinha cruzado oceanos, viajado guiada pela música do coração, composto odes à existência, aprendido instrumentos, vivido em uma cidade vibrante. Mesmo assim, as coisas mais simples, um sorriso sincero, um abraço apertado, lhe pareciam mais difíceis do que admitiria até a si mesma.
— Sim, tenho uma pergunta.
E se a pessoa não costuma sentir alegria de viver?
Quero dizer… minha mãe morreu há pouco tempo, o que me entristece, claro. Mas mesmo antes disso, nunca senti alegria por simplesmente estar viva. Estou aqui, vivo momentos bons e ruins, sei do preço das coisas. Mas não sinto essa alegria intrínseca de existir.
O professor baixou os olhos da mesma forma que havia sugerido há pouco. Nem todos perceberam que, naquele breve intervalo, entre uma fala e outra, ele próprio mergulhava no espaço onde os convidava a entrar. Voltou-se para a moça com toda atenção, ao modo de quem realmente escuta.
— Depende. Cada caso é um caso. Às vezes é preciso olhar para trás, investigar onde a alegria parou ou se nunca chegou. É um trabalho delicado, que pode ser feito em um acompanhamento individual. Aqui, porém, começamos apenas olhando para dentro. Para as emoções que bloqueiam, mas também transformam e libertam. Olhamos para a rigidez, essa bola dura no peito. Deixamos a respiração tocar o lugar com sutileza, como um lenço de seda que vai e vem, suavizando a tensão. E então algo se move. E se abre.
Deu para entender?
Não haviam entendido. Mas confiaram. Mergulharam de novo: nos sons da mata, nos colibris, na chuva leve. Nos sentimentos que brotam das profundezas.
